Conhecendo a sua alcunha, não é de estranhar que a imagem que apresentou seja uma auto-representação. A imagem fala por si. Uma mão levantada segura um avião de papel veloz, mas frágil, pronto a voar para a divisão clara do horizonte, apresentando uma mensagem que é tão simbólica quanto literal: voa! Nas suas instalações multimédia, esculturas e gravuras, o João recorre habitualmente à linguagem poética, propondo metáforas visuais e verbais para expressar o significado de ser e sentir-se humano. Neste caso, o autorretrato representa uma visão ontológica da obra de João, sintetizada num prisma de luminosidade brilhante e movimento capturado. Ao longo de sua produção, o artista reivindica o indivíduo como destinatário da liberdade diante da injustiça social, assim como o braço levantado simboliza esperança e força. As suas peças anseiam e exprimem um ideal de paz, de comunidade e de progresso político, tal como o céu sem nuvens e o papel vazio surgem como uma tela em branco pronta a ser preenchida com sonhos de futuros utópicos. O azul iluminado pelo sol é desprovido da presença de pedras ou correntes, símbolos que habitualmente representam opressão ou restrição nas suas instalações. Nada se opõe à forte diagonal traçada pela presença humana, ao forte impulso de um único gesto: partir, e partir! Só a arte pode levar-nos à frente.
Então, podemos segui-lo no vazio?
Texto por Whataboutvic
